Por que também devíamos nos preocupar com a segurança alimentar na dieta?
A história da segurança alimentar é quase tão antiga como o próprio ser humano e começou quando o indivíduo entendeu que existiam certos alimentos que lhe eram naturalmente tóxicos, como cogumelos e frutos venenosos. Hoje, a importância da segurança alimentar reside não apenas do consumo seguro de alimentos comprovadamente não tóxicos, mas na qualidade dos alimentos ditos adequados ao consumo e no seu modo de preparo, assim como em todo o processo entre a produção e o nosso prato. E por que deveríamos dar mais atenção a isto?
A alimentação é essencial para a vida, mas a ingestão de alimentos contaminados pode causar doenças e até mesmo à morte. Casos como ingestão de carne de porco com cisticercose (que levam até o cérebro ovos de Tênia) e diarreias e desidratação causadas por alimentos contaminados por salmonela são apenas dois exemplos de como a segurança alimentar é crucial para nossa própria saúde, não se tratando apenas de comer alimentos nutritivos e saudáveis, mas também seguros. Por esse motivo, essa questão abraça todas as etapas do processo alimentar, preparação, confecção, distribuição, etc. de forma a garantir que o alimento atende ao que é preciso para o ser humano e que não lhe causará danos.
A questão alimentar vai muito além do pão nosso de cada dia nas mesas da nossa casa e uma possível disenteria decorrente de intoxicação alimentar leve, mas atinge o mundo em escala macro. Embora sejamos hoje a geração mais bem preparada para dar fim ao maior problema solucionável do mundo, que é a fome, 815 milhões de pessoas tem acesso a menos alimentos do que o necessário para sua subsistência, numa população global de quase 8 bilhões de pessoas. Mas além do problema do desperdício, que se refere a 1/3 de todos os alimentos é perdido ou desperdiçado, segundo a ONU, a insegurança alimentar junto à fome simultaneamente comprometem o desenvolvimento humano, as perspectivas de desenvolvimento das sociedades e o potencial econômico dos países.
À medida que a cultura, a sociedade e os hábitos alimentares se transformaram com o passar dos séculos, a segurança alimentar foi se tornando mais séria e presente. Por exemplo, as leis bíblicas do antigo estado de Israel incluem referência a alimentos proibidos para o consumo, assim como métodos adequados de preparação das refeições e a importância da higiene alimentar, do lavar as mãos e outros processos. A chamada alimentação kasher até hoje é a regra alimentar dos judeus ortodoxos e consistem em um conjunto de regras de segurança alimentar dos mais antigos do mundo.
Séculos depois, o reconhecimento por Antonie van Leeuwenhoek da existência de microrganismos que tinham impacto na segurança alimentar, a introdução de processos com a utilização de calor em alimentos, com o trabalho de Appert e Pasteur, junto com os avanços na medicina e na área da microbiologia alimentar, foram um passo crucial na cultura ocidental para a segurança alimentar e que perdura ate hoje (Griffith, 2006).
Órgãos como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e os demais sistemas de gestão em segurança alimentar são fundamentais para ajudar a termos sempre o melhor alimento disponível à mesa. No entanto, e importante ressalvar que o sucesso e eficácia destes sistemas depende intrinsecamente de diversos processos, desde o cultivo até a chegada à prateleira dos supermercados e consequentemente à nossa mesa.
As doenças de origem alimentar têm como causas vários tipos de ameaças, provenientes de elementos físicos, biológicos e químicos. Contudo, se tratando de segurança alimentar, ainda não se dispõe de dados suficientes ou de técnicas de pesquisa definidas para avaliar com total exatidão, por exemplo, como é feito o manuseio destes alimentos não apenas no plantio e na colheita, mas no armazenamento e distribuição durante toda a cadeia produtiva até chegar a nós. Por isso casos como intoxicações alimentares ou encontrar animais mortos dentro de embalagens supostamente lacradas, assim como uma série de alterações indesejadas têm sido verificadas com certa frequência, muito abaixo da desejada, e encontram-se casos por todo o mundo, em especial países onde não há controle rigoroso destes aspectos.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2015 alertou para que a fiscalização fosse "do campo ao prato" no que tange aos alimentos. Acredito que é preciso sim fiscalizar toda a cadeia produtiva e comercial dos alimentos, mas em último e não menos relevante lugar, é preciso conscientizar o consumidor, que é importantíssimo no estabelecimento de uma cultura de zeladoria pela segurança alimentar, pois sem ter noção da relevância desta para a saúde pública não se preocupará em tomar parte nesta busca por alimentos melhores. A responsabilidade pela segurança alimentar abrange não só os produtores e a indústria alimentar, como também as entidades governamentais e os próprios consumidores.
Por isso, também devemos nos preocupar com a questão da segurança alimentar como forma de garantir uma melhor saúde e minimizar o risco de doenças, parasitas e todo tipo de efeito colateral indesejado que o não cumprimento das normas de higiene e cuidado com os alimentos podem trazer.
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