O que é a dieta cetogênica e como ela funciona?
Antes de irmos direto ao assunto, gostaria de enfatizar que os meus posts aqui no blog são de caráter informativo e jamais devem ser utilizados em substituição a qualquer aconselhamento de um profissional da área da saúde. Aqui compartilho as minhas experiências e conceitos do universo da nutrição. O meu maior objetivo é trazer a informação com embasamento científico para os leitores em uma linguagem fácil de ser compreendida. Agora vamos ao assunto.
O que é a dieta cetogênica?
A dieta cetogênica é muitas vezes referida como "low carb" ou "low carb high fat" (LCHF), que significa "baixos níveis de carboidrato e altos níveis de gordura". Quando consumimos alimentos ricos em carboidratos, o nosso corpo "quebra" esse carboidrato em glicose e em resposta à presença de glicose no sangue, produzimos insulina. A glicose é utilizada pelo corpo como fonte de energia e a insulina é o hormônio secretado pelo pâncreas, utilizado para metabolizar a glicose na corrente sanguínea. Caso contrário, níveis elevados de açúcar no sangue resultariam em inúmeros problemas de saúde como a diabetes tipo 2, doenças hepáticas e câncer. Nesse caso, quando a glicose é utilizada como fonte primária de energia, as gorduras não são necessárias para esse mesmo fim. Contudo, quando a ingestão de carboidratos é drasticamente reduzida ou zerada, o nosso corpo é induzido a um estado chamado de cetose.
O que é a cetose?
O estado de cetose é um processo natural de sobrevivência do corpo humano que ocorre quando a quantidade de alimentos ingeridos é baixa. Portanto, o maior objetivo da dieta cetogênica é forçar o nosso corpo a entrar nesse estado e produzir corpos cetônicos, através da quebra de gorduras no fígado. É importante ressaltar que a dieta cetogênica não induz esse estado metábolico através da privação completa de calorias, mas apenas das calorias provenientes dos carboidratos. O estado de cetose pode trazer riscos para a saúde, quando ocorre um acúmulo de corpos cetônicos.
E o que a ciência diz sobre a dieta cetogênica?
Estudos apontam que o estado de cetose com níveis ideais de corpos cetônicos, pode oferecer alguns benefícios para a saúde, como perda de peso, prevenção da síndrome metabólica, controle dos níveis de insulina no sangue, controle de colesterol, controle de convulsões nos pacientes epiléticos, melhorias de performance física e mental e controle da fome.
Contudo, como sempre falo aqui no blog, nenhum protocolo alimentar deve ser seguido sem que haja um devido acompanhamento ou recomendação de um profissional. Na dieta cetogênica, os alimentos são comumentes pesados e a quantidade de cada macronutriente (gordura, carboidrato e proteína) deve ser cuidadosamente observadas. A dieta cetogênica não é de fácil adaptação para a grande maioria. Há relatos de diversas pessoas que não conseguiram privar-se da ingestão de carboidratos por completo.
Por se tratar de uma dieta com níveis mais altos de gordura, é impreterível que os tipos de gordura sejam observados para que não haja um consumo excessivo de gorduras saturadas e, preferencialmente, nenhum consumo de gordura trans. As gorduras saturadas, apesar de terem sido acusadas de vilãs por muitos anos, possuem um papel importante na saúde, mas devem ser consumidas com moderação para que desempenhem sua função no corpo de maneira apropriada.
No que diz respeito a minha experiência pessoal, sinto muita dificuldade de abster-me completamente dos carboidratos na minha alimentação e isso, na realidade, não é o meu foco. Em um teste metabólico que fiz recentemente, foi constatado que o meu corpo utiliza a gordura como fonte primária de energia, portanto, não haveria necessidade no meu caso, de seguir a dieta cetogênica para induzir o estado de cetose, a menos que por recomendação médica.
Como surgiu a dieta cetogênica?
A dieta cetogênica tem sido bastante comentada nos últimos anos, mas ela não é uma estratégia nutricional descoberta recente assim. Na realidade, a dieta cetogênica começou a ser vastamente utilizada como uma forma de tratamento para a epilepsia nas décadas de 1920 e 1930. Em 1921, o endocrinologista Rollin Woodyatt percebeu a presença de acetona e beta hidroxibutírico, em indivíduos que foram submetidos ao jejum ou a uma quantidade muito baixa de carboidrato.
No mesmo ano, o Dr. Russell Wilder da Mayo Clinic, propôs que a dieta cetogênica fosse usada ao invés do jejum para tratar crianças com epilepsia. Estudos complementares e mais abrangentes foram realizados nas décadas seguintes e vale ressaltar que, na década de 1960, pesquisas apontaram que uma grande quantidade de corpos cetônicos são produzidos por TCM (triglicerídeos de cadeia média) por unidade de energia, uma vez que eles são rapidamente transportados para o fígado.
Durante aquele período, muitos hospitais passaram a utilizar a "dieta TCM" no lugar da dieta cetogênica para tratar pacientes com eplepsia. Muito embora a dieta cetogênica tenha demonstrado grande eficácia no tratamento de epilepsia, ela foi descontinuada após alguns anos, quando diversos medicamentos passaram a ser mais utilizados para tratar e controlar a doença. Entre os anos 1970 e 2000, pouquíssimos estudos foram publicados e a dieta cetogênica ficou adormecida.
Foi logo após a TV americana colocar no ar uma matéria que contava a história verídica de Charlie, um garotinho de apenas 2 anos que sofria de convulsões epiléticas e obteve uma melhora significante com a dieta cetogênica, que o assunto reemergeu entre a população em geral e principalmente na comunidade científica1.
Referência:
- James W. Wheless. History of the ketogenic diet. Wiley Periodicals, Inc. Epilepsia,49(Suppl. 8):3–5, 2008.
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