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Nutrição funcional é alternativa para uma alimentação saudável sem neuras

Bella Falconi

30/08/2019 04h00

Crédito: iStock

Provavelmente você já ouviu falar em nutrição funcional, mas não necessariamente todos que já ouviram falar no tema têm a real consciência do que isto realmente é. Por esse motivo, resolvi falar um pouco sobre essa área da nutrição e de como isso pode ser uma alternativa para aqueles que buscam apenas ter uma alimentação saudável, e não sejam atletas de fisiculturismo ou pessoas que tem objetivos que só podem ser alcançados com dietas e protocolos específicos.

O conceito principal da nutrição funcional é usar as informações da ciência da nutrição para prevenir ou até mesmo tratar doenças e diversos distúrbios e disfunções através dos nutrientes fornecidos pelos alimentos. O termo 'alimentos funcionais' foi inicialmente introduzido pelo governo do Japão em meados dos anos 1980, como o resultado de esforços para desenvolver alimentos que possibilitassem a redução dos gastos com saúde pública, considerando a elevada expectativa de vida naquele país, sendo pioneiro em regulação específica para isto.

Conhecidos fora do Brasil como Alimentos para Uso Específico de Saúde (FOSHU, na sigla em inglês), estes alimentos trazem um selo de aprovação do Ministério da Saúde e Bem-Estar japonês (Hasler, 1998). O princípio foi rapidamente adotado mundialmente (Hasler, 2002). Entretanto, as denominações das alegações dos benefícios de cada alimento, assim como os critérios para sua aprovação variam de acordo com as entidades reguladoras de cada país.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) considera que são alimentos funcionais os que têm em sua composição elementos (nutrientes e outros compostos) que tem o potencial de auxiliar diretamente no melhor funcionamento do nosso corpo e/ou na prevenção de doenças. No entanto, a determinação de quais alimentos são realmente funcionais está em constante atualização.

Muito além dos alimentos

No entanto, não basta atribuir aos alimentos todo o crédito, e sim a um conjunto de boas práticas. O guia alimentar para a população brasileira, do Ministério da Saúde, recomenda o estímulo à prática de atividade física, a adoção de uma dieta variada e alerta para não se mistificar os componentes funcionais dos alimentos.

O guia alimentar se baseia na noção de que a alimentação se dá em função do consumo de alimentos e não de nutrientes. Ou seja, uma alimentação saudável deve ser baseada em práticas alimentares que tenham significado social e cultural. Considera que todas as características como o gosto, cor, forma, aroma e textura dos alimentos precisam ser considerados na abordagem nutricional. O alimento como fonte de prazer e identidade cultural e familiar é também uma abordagem necessária para a promoção da saúde.

Quanto a quais alimentos se encaixam na definição de alimentos funcionais, eu diria que são aqueles que existem estudos científicos que comprovadamente apontam seus benefícios. São alimentos que sejam ditos naturais, minimamente ou não processados, que irão se encaixam nesse critério, que são: frutas e legumes, verduras, cereais, leguminosas, peixes, carnes, ovos, sementes, temperos naturais, etc.

O que quero dizer é que através do conceito de nutrição funcional, os adeptos deste estilo de vida acreditam que é possível ter uma alimentação de qualidade, usufruir dos benefícios dos alimentos ditos funcionais, mas sem radicalismos, desfrutando do prazer da alimentação. Isto é sustentado por diversos estudos e especialistas. Muitos destes estudos falam sobre o que é nutrição funcional e do que é importante para entendermos sobre a relação comida e saúde, atentando para o fato que devemos fugir de um discurso mais radical. É perigoso priorizar apenas os nutrientes e não os alimentos em si.

Só porque determinado alimento, por exemplo, ajuda a combater o colesterol, então este é o único motivo para consumi-lo e incluí-lo na minha dieta? Possivelmente não. A nutrição funcional não se trata de uma dieta de caráter mega restritivo, e sim de ter liberdade em escolher alimentos que irão providenciar ao seu corpo os nutrientes necessários, sem a neura de fazer dietas muito proibitivas. É comer pensando também em incluir alimentos que ao mesmo tempo que são saborosos são nutritivos.

A obsessão de querer atingir uma alimentação saudável baseada em grandes restrições alimentares pode levar ao distúrbio da ortorexia nervosa, que ocorre quando a pessoa se torna obcecada por uma alimentação saudável, cometendo diversos excessos em prol de um suposto benefício para si. Contudo, não podemos esquecer que saúde é um estado de completo bem-estar físico, social e mental, pela definição da OMS (Organização Mundial de Saúde). Não se trata de apenas comer coisas ditas saudáveis, tem um contexto muito mais amplo, que envolve equilíbrio físico, mental e emocional. Como diria o barão de Coupertin: "corpo são, mente sã".

Como um alimento é classificado como funcional?

Surfando na onda dos chamados alimentos funcionais, não apenas grandes indústrias do agronegócio como muitas fabricantes de produtos farmacêuticos resolveram tentar incluir seus produtos como alimentos e suplementos funcionais afim de atrair atenção dos que buscam uma vida mais saudável. A RDC n° 2/2002 (Anvisa, 2002) se aplica às diretrizes a serem adotadas para a avaliação de segurança, registro e comercialização de substâncias bioativas e probióticos isolados com alegação de propriedades funcional e, ou, de saúde, apresentadas como formas farmacêuticas (cápsulas, comprimidos, tabletes, pós, granulados, pastilhas, suspensões e soluções).

Os produtos são classificados em: carotenóides, fitoesteróis, flavonóides, fosfolípideos, organossulfurados, polifenóis e probióticos. Uma vez aprovadas, as alegações propostas pelo fabricante são de uso obrigatório. O registro na Anvisa é obrigatório tanto para as substâncias bioativas e probióticos isolados como para alimentos com alegação de propriedade funcional e, ou, de saúde e para os alimentos novos e novos ingredientes, produzidos no Brasil ou importados (Anvisa, 2000a, b, 2005c). Mesmo para os produtos de origem animal, de competência do Ministério da Agricultura, o processo referente à comprovação das alegações deve ser encaminhado pelo referido Ministério à Anvisa para análise.

Logo, se você quer uma vida mais saudável e vê na alimentação uma maneira para alcançar estes objetivos, a nutrição funcional pode ser um caminho a trilhar. Sempre recomendo que se procure a orientação profissional de um nutricionista, mas no entanto, o que uma alimentação funcional valoriza são alimentos não processados, naturais e diversos, como fontes de fibras, minerais essenciais e proteínas, o que por via de regra é benéfico a todos. Fugir do fast food, dos industrializados e dos processados pode ajudar na saúde geral de todos os indivíduos.

Referências
Alimentos funcionais segundo a ANVISA

 

Guia Alimentar para a População Brasileira – Ministério da Saúde

 

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. ANVISA. (Brasil). Alimentos. Comissões e Grupos de Trabalho. Comissão Tecnocientífica de Assessoramento em Alimentos Funcionais e Novos Alimentos. Alimentos com Alegações de Propriedades Funcionais e ou de Saúde, Novos Alimentos/Ingredientes, Substâncias Bioativas e Probióticos. Atualizado em 11 de janeiro de 2005. VIII-Lista das Alegações Aprovadas. Disponível em: http:www.anvisa.gov.br/ alimentos/comissões/tecno.htm

 

Informe Técnico nº 9, de 21 de maio de 2004, Orientação para utilização, em rótulos de alimentos, de alegação de propriedades funcionais de nutrientes com funções plenamente reconhecidas pela comunidade científica (item 3.3 da Resolução ANVS/MS nº18/99). Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/alimentos/informes/09_210504.htm

 

LAJOLO, F.M. Functional foods: Latin American Perspectives. British Journal of Nutrition, v.88, Suppl. 2, S145-S150, 2002: https://www.cambridge.org/core/journals/british-journal-of-nutrition/article/functional-foods-latin-american-perspectives/0BCF3013FC6DE8CC2324909E50541611

 

Diet, Nutrition and the Prevention of Chronic Diseases. Report of a joint WHO/FAO expert consultation. (WHO Technical Report Series, 916).Geneva. 149 p. 2003. Disponível em: http://whqlibdoc.who.int/trs/who_TRS_916.pdf

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Sobre o autor

Bella Falconi é bacharel em nutrição e mestre em nutrição aplicada pela Northeastern University, nos Estados Unidos. Atualmente É pós-graduanda em Teologia e pioneira do movimento saudável nas redes sociais. Bella também é ex-atleta fitness e ministra palestras motivacionais em vários lugares do mundo, principalmente no Brasil.

Sobre o blog

Dicas e artigos sobre saúde e bem-estar, com foco no equilíbrio e nas realizações pessoais. A ideia central do blog é motivar e também desmistificar diversos assuntos sobre alimentação saudável.

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